Academia

Break the Ice!

We're restless at heart burnin' inside !

Eu não estava nada bem, de verdade. Quando chego na academia, sem pensar muito na sorte que tive por ninguém me parar e me mandar voltar para o dormitório, acendo as luzes e fecho a porta, sem trancar. Uma música, daquelas agitadinhas, típicas de academia, começa a tocar imediatamente e eu vou até o notebook, onde se podia controlar as músicas, para trocá-la. Acho facilmente um álbum da Britney e coloco para tocar, a todo volume.
A garrafa de whisky já estava na metade e tomo mais uma boa quantidade para tirar os colares, os brincos, a pulseira, o anel, os sapatos e a blusa, ficando só de sutiã e short, como eu realmente me sentia mais confortável, embora dessa vez não esteja procurando o conforto, e sim um modo de não suar tanto. Prendo o cabelo com um amarrador que acho dentro da minha bolsa e coloco as luvas de boxe.
Não amava boxe, mas tinha descoberto-o como uma forma de extravasar a raiva. E isso era tudo o que eu precisava no momento.
Começo uma série básica no saco de boxe, tipo 1,2,3... 1,2... chute... 1,2,3... 1,2... chute. Também gritava de vez em quando, ou cantava, ou me concentrava tanto nos movimentos, que esquecia de fazer tudo isso. Comecei a suar nos 5 minutos seguintes e agradeci por ter tido a brilhante ideia de tirar a blusa.
O papo de que vampiros não suam é totalmente verdadeiro. Mas toda regra tem sua excessão, e a excessão dessa é que é impossível eu fazer boxe sem suar.
O enjoo e a tontura não haviam passado, ao contrário, estavam cada vez mais fortes... Continuei minha série, ignorando-os, até que não foi mais possível.
Corri para o banheiro e vomitei muito. Ao voltar, tomei mais alguns goles de whisky e tentei continuar a série, mas minhas pernas enfraqueceram e caí no chão. A última coisa que eu vi, foi alguém tentando me levantar, mas eu não conseguindo reagir.
A música tão alta, os meus batimentos cardíacos acelerados, minha respiração irregular, o gosto ruim na boca, o calor com as luvas de boxe, a quantidade enorme de bebida alcoólica...
Fechei os olhos e desmaiei.

O PIOR DIA DO ANO- @

Break the Ice!

We're restless at heart burnin' inside !

Abro os olhos devagar.
Sinto algo fofo embaixo de mim e minha cabeça sobre um travesseiro. Pisco algumas vezes para me acostumar com a luz e viro a cabeça devagar, para parar de olhar para o teto. Não demoro para encarar quem tentou me levantar e, possivelmente, me deixou assim tão confortável, no chão: o comandante. Sorrio fracamente.
Tinha que ser você...
Sussurro. E então percebo que ele não desligou a música, Britney continua cantando e muito alto, então ele não me escutou. Levanto devagar e, me apoiando nas coisas pelo caminho, vou até o notebook e desligo o som. Um silêncio repentino toma conta de tudo. Volto até onde o comandante está e percebo o que há na bancada. Repentinamente, meu enjoo volta com tudo.
Tira isso daqui. Toda essa...
Digo brava, mas paro no meio da frase, não iria conseguir segurar tudo o que bebi dentro de mim por mais tempo. Se pudesse, até correria para o banheiro, mas não tinha forças para isso, então caminho até lá, meio rápido, me apoiando em tudo que tinha no caminho. Vomito muito.
Quando isso tinha chegado a esse ponto? Eu não podia nem pensar em comida que já vomitava. E sem fazer esforço algum!
Não me alimentava a 5 dias, 7 horas e 53 minutos e era meu récorde. Nada. Nem uma balinha de cereja. Não... Acho que comi uma balinha, sim... Ah, e bebi muito também. Exageradamente. Sem comer nada em troca. Sabia que não estava bem, e, segundo Liss, doente. Ela tinha dito o nome da doença, mas não me lembrava. Sem falar que eu me recusava a acreditar que estava mesmo doente. Só estou... me cuidando.
Lavo muito bem a boca antes de voltar para onde o comandante estava, minutos depois.
Sério. Você tem que tirar tudo... isso da minha frente.
Tento não olhar para ''tudo isso'' na bancada e controlar meus pensamentos para não pensar em nada a ver com ''tudo isso''.
Deixo-me cair de volta no cobertor, colocar a cabeça no travesseiro e fechar os olhos.
Você vai contar para o meu pai, não vai?
Minha voz saia baixa, mas o suficiente para ser ouvida, porque o silêncio ali tomava conta.

O PIOR DIA DO ANO- @

Break the Ice!

We're restless at heart burnin' inside !

Ouvi, ainda com os olhos fechados, o comandante dizendo que precisava contar ao meu pai. Não protesto, nem digo nada, estava fraca demais para fazer isso. Isso, afinal, seria inevitável, um dia. As formas de chantagem dele iam acabar de qualquer jeito.
Sinto-o chegar perto de mim e sentar ao meu lado. Abro os olhos vejo-o dizendo para mim que tenho que comer, mas não de uma forma ameaçadora. Apoio os cotovelos no travesseiro para ter uma visão melhor dele.
Você não entende, não é? Eu não consigo...
Penso em começar uma calorosa discussão, dizendo que ele não pode se meter na minha vida ou algo do tipo, mas tenho uma ideia melhor. Levanto e vou até a minha bolsa, em um canto proxímo, coloco tudo espalhado por ali dentro da bolsa, inclusive a blusa, calço os sapatos e tiro o copo d'água da mão dele, tomando um gole só e rapidamente colocando de volta na bancada.
Vou te mostrar uma coisa. Vem comigo.
Não dou tempo para ele negar, faço-o largar a salada e pego sua mão, obrigando-o a vir comigo.

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