Quarto de Brandom Stark

O celular começa a tocar e eu não acredito. Tinha acabado de deitar! Mesmo assim vejo que horas são e, que ótimo, estou atrasado.
Pulo da cama e troco de roupa em alguns segundos. O cabelo é um pouco - muito - mais difícil de ajeitar e estou sem tempo, então coloco a touca da jaqueta. Assim que eu chegasse no refeitório ia estar tudo no lugar, eu esperava. Do lado de fora do dormitório, viro lobo e vou correndo para o refeitório.

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Post 04 - Meu Quarto - Sozinho

Acordo com a cara no chão, meio vestido, e ouvindo uma voz de mulher pedindo desculpa por alguma coisa. Ah, Allison. Até que foi bom. Dormir com ela, quer dizer. Ela está falando sobre não comentar isso com ninguém. Finalmente levanto.
Relaxa. Nosso pequeno segredo.
Digo, vendo ela juntar suas roupas. Bem espalhadas. Isso só pode significar que o negócio ontem foi quente. Eu não estava nem um pouco bêbado, vou lembrar dos detalhes em breve. Entrego a blusa para ela, bem rasgada. Allison pergunta se posso me virar para ela se trocar.
Ah. Sim. Se precisar de outra camiseta, pode pegar uma no guarda-roupa.
Achei que ela tinha mudado para uma versão mais radical, só que continua a mesma garota certinha. Coloco uma camiseta e saio do quarto, para deixar ela à vontade. Uma corrida seria o suficiente para lembrar de tudo.

Não lidei bem com a morte dela. Não consigo deixar para lá, não consigo voltar para minha vida normal. E faz tanto tempo já. As lembranças vêm quando eu não estou preparado e eu me lembro de cada detalhe.
Do dia em que conheci ela: meu primeiro dia aqui no camp, o primeiro café da manhã no refeitório. Ela devia ter uns 14 anos e entrou no lugar como se fosse dona de tudo aquilo, mal sabia eu que ela meio que era mesmo. Lembro até da roupa que ela usava, uma blusa rosa curta, uma calça de couro preta e uns saltos altos. Ela estava de óculos escuro e todo mundo parou o que estava fazendo para olhar, ela foi até o buffet, pegou um pão de queijo minúsculo e sentou em uma mesa sozinha. Então as conversas e os barulhos voltaram ao normal. Não entendi porque ela sentou sozinha, já que aparentemente todos que já estudavam ali conheciam ela. Esperei mais um pouco e uma garota loira, que depois eu iria saber que era Lissa, sentou ao seu lado e elas começaram a conversar. Ela tirou os óculos e vi de relance a cor dos seus olhos. Era indefinida, mas seu rosto era lindo. E foi ali que eu me apaixonei pela primeira e última vez na vida. Meu coração pertencia a Megan Ivashkov.
Do dia em que trocamos as primeiras palavras: foi no final daquele primeiro ano, porque eu costumava ser tímido. Já havia feito amizade com Jay, mas ainda não éramos descolados o suficiente para sermos convidados para as festas secretas do camp. Dessa vez, porém, tínhamos sido lembrados e, quando cheguei lá, numa clareira no meio da floresta, percebi que aquele era o Acampamento Sobrenatural de que todo mundo falava. Todos os veteranos estavam bêbados, uma música eletrônica alta estava tocando, as luzes ficavam apagando e acendendo e mudando de cor. As garotas estavam todas arrumadas e os garotos tentavam lançar seu melhor papo para elas. Meus olhos se desviaram para um montinho de gente em volta de uma mesa e, quando olhei para cima, lá estava ela, dançando, rindo, cabelos soltos. Fui fisgado e me aproximei, logo estava junto com todos os outros caras ali ao redor, que apostavam se ela iria cair e tentavam olhar por baixo da sua saia. Ela virou o pé, eu acho, e acabou que eu estava na posição certa. Megan caiu em câmera lenta em cima de mim, rindo depois do susto, abraçando meu pescoço. Ela não pesava quase nada e me agradeceu. "Você tem pegada, lobisomem." Foram as exatas palavras, não sei como ela já sabia quem eu era, mas, mesmo com o forte cheiro de bebida, parecia se lembrar. "Sempre que precisar." Eu disse, ou acho que disse, num lapso de coragem que tirei não sei de onde. Coloquei-a no chão e os caras a nossa volta tentaram imediatamente convencer ela a subir na mesa de novo. Vi alguns dólares passando de mão em mão. Ela também deve ter visto, porque disse não e, pegando minha mão, me levou para um canto perto de uma árvore, onde estavam as bebidas. "Megan." Ela disse, e eu respondi com um idiota "eu sei". Ela riu e eu tentei corrigir rápido. "Brandom. Pode me passar seu número?" Ela pareceu surpresa com o fato de que eu ainda não tivesse ele e digitou no meu celular. Depois fez uma ligação para si própria. "Para o caso de mais quedas indesejadas." Ela disse com um sorriso e, depois de encher seu copo, saiu. Jay veio ao meu encontro todo animado, daquele jeito dele, querendo saber detalhes. Foi aí que eu descobri quem ela era, sua influência sobre o camp, como sua reputação tinha mudado no último ano. E nada disso me abalou.
Do dia em que a salvei: depois daquela festa, toda vez que nos encontrávamos pelos corredores, sorríamos um para o outro. Mas nunca mais nos falamos até O Dia. Eu tinha recém feito 15 anos e estava saindo de um treino, quando meu celular tocou e o nome dela apareceu na tela. Atendi, animado, mas mudei de tom quando vi que ela estava chorando. "Vou cair, vou cair, você tem que vim aqui." Corri o mais rápido que pude até o dormitório dela, já não lembro se era o de Bruxos ou o dos Vampiros, e l gritei para todos que encontrava, perguntando onde era o quarto dela. Achei e a porta estava trancada, mas conseguia ouvir choro lá dentro. Arrebentei a porta e encontrei ela caída no chão, sem forças, um pouco de drogas ao redor. Ela não pareceu me reconhecer, mas levei-a para a enfermaria e foi lá que descobri, pela enfermeira, sobre os problemas de alimentação de Megan, sobre as overdoses passadas. O pai dela foi visitá-la, me olhou com raiva, como se eu tivesse toda a culpa pelo que estava acontecendo. Saí dali e voltei ao quarto dela, para esperar pela sua volta. Era madrugada quando ela chegou, mas eu não tinha nem cochilado. Estava cansada, mas pareceu agradecida por encontrar alguém ali. Conversamos até amanhecer, ela me contou tudo sobre si mesma, se abriu como nunca tinha se aberto com ninguém. Me deixou bolar um plano para ajudá-la e, no outro dia, começamos as nossas corridas matinais, antes das aulas. Eu estava todo dia pontualmente as 5 da manhã na porta do dormitório dela e nós corríamos. No começo não falávamos nada, ela parecia envergonhada por ter me contado tanta coisa, mas viramos amigos e logo as pessoas estavam comentando. E quando vi, eu estava namorando Megan Rose Ivashkov, e não podia estar mais feliz...