Bosque

Deixei Luce no shopping e dei um jeito de escapar rápido. Meu cartão ficou com ela. Liberado. Sério. Ela podia comprar o que quisesse, desde que comprasse o que eu havia pedido. Porque ficar tanto tempo lá então? Necessidades, ela disse. Ah, tá.
Vim para um conhecido bosque em Londres e me transformei em lobo rapidamente. Corri por um tempo, penetrando mais e mais fundo no bosque, até estar cercado por completa escuridão, mas o estranho é que eu não estava sozinho. Consegui ouvir os passos e sentir o cheiro: mais ou menos a 30 passos de distância, humano. Não, humana. E eu estava com vontade brincar hoje, então virei e esperei, deixei que ela viesse até mim. Levou um susto, gritou e saiu correndo, bem como eu queria. Sai correndo atrás dela, só que, quando estávamos quase chegando no limite do bosque, ela tropeçou em uma raíz de uma árvore e caiu. Foi muito rápido, não consegui parar a tempo e acabei passando por cima dela. Voltei a forma humana rápido e me abaixei ao lado da mulher. Era bonita de costas, embora um pouco velha demais para o meu gosto. Virei o seu rosto para encará-la, agora com calma, e não me pareceu um rosto estranho. Na verdade, eu conhecia aquela mulher. Não podia ser... Com as garras de lobo, eu havia machucado seriamente ela e sua pulsação estava baixa. Mas, não... Não podia ser a... Peguei o celular e mandei uma mensagem para Luce.

SMS para Luce:

A Top Model iria me matar.

Luce demora uma eternidade pra chegar e eu faço o possível para manter a mulher viva. Então a Top Model chega e fica meio confusa. Mas pelo menos chega trazendo o que eu pedi. Largo a sacola no chão e faço Luce se abaixar para ver a mulher mais de perto.
- Então? É ela? Porque faz um tempo que eu não vou na sua casa...
Eu não tinha certeza, mas será que era...
- É a sua tia?

Era a tia Judith mesmo e isso era muito, muito mal. Luce fala algumas coisas meio sem sentido e, inevitavelmente, penso em um novo apelido para ela. Sério, eu já tinha enjoado do Top Model, sem contar que é muito grande.
Coloco Tia Judith, impossível chamá-la de outro jeito, encostada numa árvore como a Barbie ordena, claramente irritada. Depois a Barbie pergunta o que eu fiz com a Tia, e eu sei que é nessa hora que a coisa vai ficar feia.
- Ela me viu, se assustou e eu corri atrás dela. Até aí, tudo culpa da Tia Judith, que não tinha nada que estar em um bosque, em Londres, numa hora dessa. Daí ela tropeçou em uma raiz e eu passei por cima dela, como lobo. Essa parte foi minha culpa.
Ela ainda não estava morta, e Luce tinha chamado alguém.
- Ela não vai morrer, eu acho. E, à propósito, o que você acha de eu chamar você de Barbie?
A opnião dela não ia mudar nada, mas eu queria saber. Pesquisa de opnião.

Pois é, ela gostou do apelido e levou Tia Judith embora em uma maca, de helicóptero. Ela não, esses caras que fazem tudo o que ela quer. Perdi meu cartão de crédito por dois dias, mas eu esperava que a Tia não morresse.
Fico um tempo parado pensando no que ela disse, para mim não cometer burrices com minha ex. Odeio pensar nela assim, como minha ex. Eu realmente queria cometer muitas burrices com ela ainda, mas nós parávamos antes de começar alguma coisa.
Pego a sacola e vou para o camp.

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