Quarto de Lissa Grigori

everything i went though, you were standing there by my side

X Meu Quarto X Música: See You Again

Meus dias na Irmandade Negra foram horríveis. As coisas que aconteceram comigo, o modo como eles me trataram... Se eu fosse uma pessoa de terapia, precisaria de 200 sessões. O que veio depois, a guerra no acampamento, também não foi nada agradável. 
Dias já se passaram, mas ainda não ousei sair do meu quarto. Era confortável, familiar e seguro. E tudo o que precisava. Nos primeiros dias, não conseguia dormir direito. As memórias ficavam passando pela minha cabeça o tempo todo, sem pausa. Tentava me distrair, mas não era fácil. Comprei pílulas para conseguir dormir, e agora tomo duas por dia. Quando não estou dormindo, tento ler algum livro ou ver algum filme; apesar de ser difícil me concentrar na história. Ficava lendo a mesma página por dez minutos, voltava o filme o tempo todo... agora está melhor, mas não tanto. 
Eu tentei sair do quarto uma vez, para procurar Megan. Ela sempre sabia o que dizer para fazer com que eu me sinta melhor. E eu sabia que só a presença dela já ia me fazer melhor; ela sempre esteve comigo quando precisei. Só que nunca cheguei a pisar fora do dormitório. Não era insegurança, ou medo que algo que fosse acontecer comigo. Era as pessoas. Elas ficavam me encarando, e eu conseguia ouvir os sussurros. A garota prisioneira. Imagina o que eles fizeram com ela. Tadinha. Coitada, além de não ter família teve que passar por isso. Depois do que ela deve ter passado, não sei como tem forças para sair do quarto.
Já estava com dor de cabeça, e ia tomar uma das pílulas para dormir quando ouço uma batida na porta. Primeiro, fico surpresa. Não tive visitas nesses últimos dias. Ah, deve ser a Megan. Estava mesmo me perguntando onde ela estava que ainda não passou aqui.
Mas quando abro a porta, não vejo Megan. Brandom. Fico surpresa com a presença dele, nós nunca fôramos próximos como ele e Megan. E então vejo. O buquê de flores. Eu odiava flores. E sabia o que elas representavam. Quando me falaram sobre minha família, também me entregaram malditas flores. E recebi muitas outras.                            
Bran me pergunta se pode entrar, e eu abro espaço para ele passar. Seguro as flores, com esperanças de ser uma boa notícia ou algo que não seja importante, e ele se senta. A medida que as palavras saem da boca dele, meu coração começa a bater acelerado. Espero até que ele diga com todas as letras. Até que ele torne tudo real e não deixe espaço para outras interpretações. É quando tudo começa a girar. Quando minha cabeça começa a latejar, quando minhas pernas começam a tremer e eu sento no sofá, quando meus olhos lacrimejam, quando passa pela minha mente todos os nossos momentos, desde que a conheci, as risadas, os papos sérios, as brigas, as reconciliações, as brincadeiras. Quando a dor é tanta que chega a ser quase insuportável. Quando eu sinto minha garganta fechar, e meu mundo desmoronar. Quando eu percebo que a última pessoa que restou da minha família e que sempre esteve lá para mim, nunca vai estar do meu lado de novo.
Alguns minutos se passam, e eu preciso saber. Engulo em seco e tento me recuperar para conseguir formular palavras. 
Quem?                                                                     
Eu precisava saber quem levou um pedaço de mim. Quem foi capaz de assassinar minha melhor amiga.
    

Thanks Panda

Ela não recebeu a notícia como eu esperava e foi isso que me fez lembrar do por quê Megs fora pega e levada para Ela naquele dia, naquela batalha com Caroline, por quê ela fora presa junto com os guardiões aprendizes: era o dia do resgate de Lissa e Megs foi ao encontro do perigo como sempre. Lissa estava na Irmandade Negra e devia estar mal ainda, por isso aqueles remédios ali em cima da cômoda.
Levanto e vou até ela, depois de alguns minutos de silêncio, quando ela pergunta quem matou. Opa. Pergunta errada.
Lembra aquele dia, quando todos estavam presos na sala de reunião? E alguém veio chamar Megs, porque Ela queria vê-la? A Noiva torturou ela para que o Comandante falasse sobre as fraquezas do Black Castle e...
Era muita coisa para Lissa saber agora, eu acho. Mas dava para ver que ela queria. Tudo o que eu falava era o quê eu tinha ouvido dos boatos por aí. Parecia verdade. E doía ser.
Dallas fez o trabalho sujo. O Black Castle não tinha fraquezas que o Comandante soubesse e tudo demorou muito tempo.
Só agora, falando tudo isso, que notei como deve ter sido para o Comandante. Cara, que desespero.
A faca estava com Je La Lune e Megs desmaiou na hora. Parece que não ia sobreviver, mas resistiu bastante, mesmo as transfusões de sangue não adiantando. Ontem ela acordou, mas sabia que ia morrer. Ela escreveu algumas cartas antes...
Entrego a carta para ela e pego a minha na mão. Abro devagar, como se o último pedaço de Megs pudesse escapar dali.

everything i went though, you were standing there by my side

X Meu Quarto X Música: See You Again

A medida que Brandom vai me dando os detalhes, uma raiva vai surgindo dentro de mim e vai crescendo cada vez mais à cada palavra dita pelo lobisomem. Levanto do sofá e começo a andar de um lado para o outro, agitada. Quando ele termina, derrubo tudo o que está em cima da mesa, escutando o baque da luminária se quebrando no chão. Apoio as duas mãos na mesa e olho para baixo, respirando fundo e tentando lidar com a notícia. Não só a morte de Megan, mas como também o fato de que ela e o Comantande Markwell tinham algo, algo forte o suficiente para ser usado como fraqueza. E, apesar eu desconfiar, ela nunca chegou a me falar. Por que?
 Depois de dez inaladas, vou até o balcão e tomo uma pílula. 
Brandom me fala que ela escreveu algumas cartas antes de morrer, e me entrega a minha. Enquanto encaro-a, posso ver pelo canto do olho que ele está lendo a dele, e percebo quando ele termina. 
Seguro a carta, pensando de devo ou não abri-la. É a última coisa que me resta dela, o nosso último contato. Mas sei que não posso adiar isso, porque preciso saber o que está escrito.
Determinada, abro a carta e começo a ler.
    

Thanks Panda

A minha carta era só um bilhete, na verdade. Mas foi o suficiente para me lembrar do que eu tenho certeza que ela queria que eu lembrasse. Foram os melhores dias de nossas vidas e eu daria qualquer coisa só para que Megs estivesse aqui agora e a gente pudesse relembrar (e quem sabe até reencenar) alguns deles. Há quantos anos atrás nós estávamos namorando? Cara, nem sei. Mas está pra nascer uma namorada melhor que ela. E a assinatura? N/F.Y.A. Eu costumava chamar ela de My Angel. Dois motivos: primeiro para irritar, porque ela meio que não gostava de Anjos Caídos, e depois porque era o que ela sempre quis ser, onde ela sempre quis chegar nessa carreira maluca de modelo. Uma Angel da Victoria's Secret. Ok, elas são lindas e muito mais, mas também parecem ser todas metidas e mortas de fome. Mas era o sonho dela. Ela nunca foi, mas sempre foi para mim. Never/Forever.
Percebo que Lissa também abriu sua carta e está lendo. A dela é muito maior que a minha. Guardo a minha no bolso e levanto para dar uma volta no quarto. Acho que se Megs escreveu cartas separadas, ela queria que ninguém além da própria pessoa lesse. O que me fazia lembrar da última carta. O que será que ela tinha escrito para o Comandante? Escuto uma música vindo de algum lugar, aquele tipo de música depressiva, que só dá vontade vomitar e que não é nada legal escutar quando se descobre que alguém que você amava morreu. Acho o bendito celular que a estava tocando, sem dificuldade já que o quarto está muito arrumado, e clico no pause. Bem melhor.
Quando volto para Lissa novamente, vejo que já terminou de ler.
- Sabe, quando ela descobriu que você tinha sido sequestrada, ficou louca. Queria ligar para Dallas ou algo assim. Ela realmente te via como uma irmã. Não parava de falar de você.
Totalmente verdade. Chegava a ser automático. Ela não percebia e, quando via, já tinha começado uma história longa sobre Lissa.
Olhei para a cama de Lissa e percebi ali o tal Mickey de pelúcia. Cara, se a gente não comprasse aquele Mickey, Megs teria pirado. Foi em um de nossos dias de matar aula, quando pegamos o carro e fomos para Orlando. Ela odiava a Disney e eu também, o que só tornou tudo mais divertido. Um dos melhores momentos para se lembrar, com certeza. Ela iria fazer alguma sessão de fotos ou algo assim por lá e eu só queria matar aula então fui junto. Ela passou o dia inteiro em uma fantasia ridícula de princesa, mas estava linda, como sempre. Conto para Lissa sobre aquele dia, acho que não tinha contado nunca para ninguém. Queria arrancar algum sorriso dela, mas estava difícil.
- Megan Ivashkov, você não tinha o direito de ter morrido.