Campina

I Wanna Go!

'Cause I know that everybody's thinking it!

Meu pai me arrasta para a campina e chegando aqui, vejo o comandante dos guardiões. Conhecia ele de vista, de alguma festa no Black Castle.
Meu pai mostra para mim a renovação de contrato com a Victoria's Secret e eu quase não acredito que eles mandaram. O contrato mesmo, eu consegui roubar da sala do meu pai com a ajuda de Jake, falsificar a assinatura dele e tudo havia dado certo. Eu tinha esquecido completamente que iriam mandar uma renovação.
Sei o que ele pensa sobre eu desfilar e não ligo a mínima. Ele deixa claro que não quer assinar, mas que eu posso ter alguma chance se fizer aulas com o comandante ali.
O diretor, porque era mais um diretor e não um pai que estava ali brigando comigo, diz que sabe que eu venho faltando aulas e sabe o que eu venho fazendo para ficar em forma. Diz que eu nunca mais vou desfilar se não der uma de aluna perfeita.
Quem te contou?! A Lissa?! Eu não devo satisfação do que eu faço ou não pra você! Isso se chama chantagem! Você quer tirar de mim a única coisa que eu gosto de fazer, é isso?!
A expressão dele dizia que era isso mesmo.
Você é um monstro!
Digo, com o dedo na frente do rosto dele. Malcriada, eu? Talvez sim. Mas havia sido criada por ele.

ENCERRADO

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Willian confirma: foi Lissa que contou para ele. Respiro fundo, ouvindo que vou fazer essa aula três vezes por semana, que o comandante não deve pegar leve comigo e que ganhei mais uma ocorrência por causa do que estou vestindo.
Meu pai sai e fico com meu ''professor''.
Afinal, você vai me dar aula de quê? Acho que já viu que eu não queria estar aqui, mas estou sendo obrigada.
Pergunto, irritada. Pelos boatos que corriam, ia ter um super-teste surpresa amanhã e meu planejamento era sumir pela manhã e não fazer teste nenhum. Devia estar arrumando as malas nesse momento.

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Aulas de auto-defesa. Meu pai pirou de vez. O comandante explica que vai me atacar, para ver o que eu sei, mas pede para mim responder duas perguntas primeiro. Assim que escuto as perguntas, começo a rir e não paro, até olhar para ele e ver que sua expressão era séria.
É para responder mesmo?! Tá... Sei lá... Com os homens seria muito fácil: seduziria ou dois, o que é muito fácil, já que quanto mais altos e fortes são, mais facilmente topam qualquer coisa se um mulher puxa o vestido um pouco mais para baixo, deixando aparecer um pouco mais o decote. No fim, ou eles me deixariam de lado, mas isso nunca acontece, ou eu iria para a cama com um deles. Ou com os dois, sem problemas, mas, claro, que só se eles valerem a pena.
Está aula estava começando a parecer divertida. Podia perder 30 minutinhos do meu precioso tempo ali, eu acho, por isso tiro a bolsa devagar e coloco sobre a grama.
A mulher baixinha seria mais complicado. Acho que um puxão de cabelo, uma amostra de como eu que mando ali, fariam ela sair da minha frente.

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Minhas respostas estão erradas. O mundo é tão injusto! Ele explica o porque, mas não escuto muita coisa, fora o fato de que ele diz que se o agressor vier me atacar, ele quer me sequestrar ou me matar e não me levar para a cama.
Não comigo! Penso, mas não digo nada.
Ele me ataca e eu ''perco'' feio, digamos assim. Depois dá algumas instruções e ataca de novo, mas acaba ficando em cima de mim, que estou deitada no chão, e me imobiliza facilmente. Em questão de segundos, percebo uma distração na expressão dele, que está olhando fixo para mim a centímetros do meu próprio rosto, e reverto o jogo. Empurro ele para cima e no próximo momento, estou eu em cima dele, empurrando seu pescoço com o braço, mas sem muita força, prendendo suas pernas e segurando seus braços com a mão livre. E ele está imobilizado completamente.
Levanto devagar, claramente feliz e dando pulinhos.
Estava muito quente mesmo. Tiro a blusa e fico só com o sutiã que eu usava como top, mas que na verdade não era, só que ninguém tem nada haver com isso.
Então? Como eu fui?

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Ele me chama de principiante e sinto a raiva crescer dentro de mim. Principiante?! Eu não era principiante! Eu lutava razoávelmente bem e há muito tempo! Mas não digo nada disso. Até que ele pede para mim colocar a blusa de volta.
Sem chance. Tá calor! E isso é um top.
Ok, mentira, mas era uma mentirinha e dependendo do ponto de vista. Torci para que ele fosse igual meu pai e não soubesse a diferença entre um sutiã e um top. Dei alguns passos para trás, até que ficasse uma distância considerável de alguns metros entre ele e eu.
Minha vez!
Gritei e os fatos se sucederam:
0,5s - Eu estava na fente dele.
1s - Segurava os pulsos dele com força nas suas costas.
1,5s - Ele estava no chão, depois de eu tê-lo feito cair com uma rasteira, com o lado direito do rosto de encontro à grama.
2s - Tentava imobilizar as pernas dele, mas ele era mais forte que eu e desisti rapidamente.
Eu. Não. Sou. Uma. Principiante.
Sussurro no ouvido dele, pausadamente.

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Ele reverte e é claro que eu ''perco'', de novo. O cara diz que eu sou uma principiante, e deixa claro que sabe a diferença entre um top e um sutiã.
Ok, cansei.
Irritada, coloco a droga da blusa de volta, o que não muda muita coisa, porque a blusa era larga e decotada. O objetivo era que o top aparecesse. Pego a bolsa do chão e vou indo embora, mas então acontece aquilo.
Eu não me alimentava a exato um dia, 6 horas e 17 minutos, pelas minhas contas. Estava quase batendo meu próprio recorde, de um dia, 8 horas e 27minutos, e ficando todo esse tempo sem desmaiar. Acho que todos aqueles movimentos de luta foram demais para o meu corpo. Eu estava absurdamente fraca, e só agora percebia isso.
Os sistomas me atingiram como todas as outras vezes: primeiro, uma sensação repentina de vazio no estômago, depois uma vontade incontrolável de vomitar, mas não havia nada no meu estômago, ou seja, nada para colocar para fora. Logo depois, minhas pernas fraquejaram e me vi caindo na grama, sentada. Minha visão ficou cheia de pontinhos brancos, minha cabeça ficou pesada e me sentia absurdamente tonta. Minha vontade era deitar e dormir.
Sempre é igual. Sempre os mesmo sintomas.
Não sei se meu ''professor'' tinha visto tudo aquilo, mas fechei os olhos, deitada na grama, e esperei passar. Sabia que eu estava pálida, mais gelada que o normal e com um aspecto horrível. É sempre assim.
Só que desta vez estava demorando para passar.

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Ali, deitada, esperando tudo ficar normal de novo, escutei o comandante. Sua voz parecia preocupada comigo. Ou só esperava que eu não desmaiasse ou algo assim, e meu pai cortasse imediatamente essas aulas e o salário que deveria estar pagando para ele. De olhos fechados, ouvi ele perguntar o que eu sentia. Abro um pouco os olhos para responder:
Fome.
Eu poderia ter mentido, poderia dizer que só tinha tropeçado, mas tinha a sensação de que ele havia visto eu cair do nada. E o que eu disse era verdade. Percebi assim que falei que fui tomada por aquela sensação de sempre, que acontecia após eu cair: meu estômago vazio pedia comida e eu relutava em entregar a ele o que ele queria.
Tentei sentar, mas ainda estava bem tonta e só fiquei como estava. Até sentir o cheiro. Algum pobre animal pequeno estava passando ali por perto. Ele vinha da floresta, mas estava muito perto da campina. Perto demais.
Não sei de onde arranjei forças para me levantar tão rápido e, quando voltei a pensar com clareza, estava em cima do animal, bebendo todo o sangue que podia dele. Sangue demais.
Senti o animal morrer nas minhas mãos, sem sangue algum no corpo. Fechei os olhos, porque não queria ver que animal eu tinha matado, e joguei ele com facilidade para dentro da floresta, com toda a força que tinha. E era pouca, em comparação ao normal.
Eu sabia o que viria a seguir: fraqueza e tontura por ter entrado um alimento de forma tão abrupta em meu corpo, que não via alimentos a quase um dia e meio.
Deixei-me cair sentada na grama, ao lado do meu "professor", e sem querer, me apoiava nele. Sabia o que ele estava pensando: que eu sou um monstro. Geralmente, eu também pensava isso de mim mesma. Não disse nada, só limpei a boca com a barra da blusa, que imediatamente ficou vermelha. Não liguei. Já estava pensando no que faria ao chegar no meu quarto. Tinha que tirar todo esse sangue de dentro de mim, e rápido. Mas a tontura não passava.
Abri minha bolsa e peguei uma bala de cereja. A única coisa que eu havia me permitido comer de 8 em 8 horas, durante todo esse tempo sem me alimentar.
Cereja porque era vermelha e me lembrava sangue. E passava um pouco o desejo.
Abro a bala e coloco na boca, pensando que depois ia colocar para fora mesmo, ou seja, sem problemas aquelas 10 gramas de puro açucar entrando junto com o sangue no meu estômago. Estendo uma bala para o comandante e digo:
Não conte para o meu pai.
Soou como uma ordem.

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Ele não faz menção nenhuma de aceitar a bala que eu ofereci e eu abro e coloco-a na boca também. 20 gramas de puro açucar. Isso estava começando a ficar preocupante.
O comandante diz que tem que contar ao meu pai, a não ser que eu coma algo leve, depois sangue. Isso me irrita, parecia que ele achava que poderia resolver os problemas do mundo todo. E quando ele pergunta porque não estou me alimentando, respondo imediatamente:
Não te interessa.
A tontura tinha passado, depois do que parecia ter sido uma eternidade, e eu já não precisava mais me apoiar nele. Me afasto o quanto posso dele, sem mudar de lugar e sem levantar, antes de dizer o que eu queria.
Primeiro você me chama de principiante, mesmo vendo todos os movimentos de Nível 3 que eu sei de luta, e nem se importa em perguntar onde eu aprendi o que já sei. Professores de verdade perguntariam.
Depois você tira uma conclusão, não sei de onde, que eu não estou me alimentando. Quem te disse isso? Não lembro de ter comentado alguma coisa!
Eu comecei falando baixo, mas, no final já estava gritando. É, eu me sentia bem melhor.

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Ele faz um sermão enorme e eu não presto atenção em quase nada. Sempre adorei minha habilidade especial de me desligar das coisas realmente chatas e sem importância. Mas percebi que não dava pra esconder muita coisa dele, pelo jeito o comandante confiava muito no seu ''poder'' de dedução.
Então, Sabidinho, quer saber porque eu não estou me alimentando direito? Você não pode não ter ouvido nada do que meu pai e eu discutimos...
Até porque sempre que eu e meu pai brigávamos, era em alto e bom tom, mas tinha percebido que o comandante tinha tentado não prestar atenção, na hora.
Faço o que faço porque eu tenho uma carreira, um futuro e um corpo a zelar. Qual é! Você não ouviu porque eu suportei essa droga de aula?!
Será que ele era realmente tão bom em se desligar do que as pessoas falavam como eu?

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O Sr. Perfeito diz que não ouviu nada. Privacidade. Mas ele deduz que eu sou modelo. Estava odiando cada vez mais essas deduções.
Olha aqui, você não tem nada com isso. Eu só fiz essa aula por uma renovação de contrato com a Victoria's Secret que, por acidente, parou nas mãos do meu pai. Todo aula você provavelmente vai ser o mesmo chato que está sendo e vou ficar irritada. Nós podemos acabar com isso. Quanto meu pai está te pagando? Consigo o dobro para você dizer para ele que venho a todas as aulas direitinho e faço a droga dos exercícios. Mas sem eu participar das aulas.
Levanto, paro botar um ponto final nesse assunto.
E então? Aceita? E claro que, se aceitando, você também não vai falar nada pro meu amado pai do que aconteceu hoje aqui.

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